Você acorda. Abre a janela. O mar está ali. Sempre esteve. Sempre estará.
Esse é o sonho. Mas sonhos custam dinheiro. E você precisa saber quanto.
Trabalho há quinze anos com imóveis em Capão da Canoa. Vi famílias chegarem. Vi outras irem embora. As que ficam sabem uma verdade simples: morar no litoral não é caro ou barato. É diferente.
Este artigo mostra os números reais. Sem romantismo. Sem mentiras. Apenas o que você vai gastar para criar seus filhos a trezentos metros do mar.
Comprar um apartamento de dois quartos em Capão custa entre R$ 280.000 e R$ 450.000. Depende do bairro. Depende da distância do mar. Depende do ano de construção.
No Centro, perto de tudo, você paga mais. R$ 4.200 a R$ 5.500 o metro quadrado. Na Zona Sul, mais tranquila, melhor para crianças, cai para R$ 3.800 a R$ 4.800. Em Capão Novo, onde os prédios são mais novos e as ruas mais largas, fica entre R$ 4.000 e R$ 5.200.
Casas são diferentes. Uma casa de três quartos com quintal custa de R$ 380.000 a R$ 650.000. O quintal importa. As crianças precisam de espaço. Os cachorros também.
Alugar é mais simples para começar. Menos compromisso. Mais flexibilidade.
Um apartamento de dois quartos sai por R$ 1.800 a R$ 2.800 mensais. Três quartos: R$ 2.500 a R$ 3.800. Casas com quintal: R$ 2.800 a R$ 4.500.
Estes são valores de aluguel anual. Não confunda com temporada. No verão, os mesmos imóveis custam R$ 8.000 a R$ 15.000 por mês. Mas você não quer alugar no verão. Você quer morar aqui.
A melhor época para negociar? Março e abril. Depois do carnaval. Quando os turistas foram embora e os proprietários percebem que o imóvel vai ficar vazio.
O mercado cresceu. Porto Alegre ficou cara e violenta. As pessoas olharam para o litoral. Viram uma saída.
Em 2022, um apartamento de dois quartos custava R$ 320.000. Hoje custa R$ 380.000. Uma valorização de 18% em três anos. Não é explosivo. É constante. É seguro.
Mas há outro movimento. Imóveis antigos, de temporada, virando residenciais. Reformas. Adaptações. Mercado de retrofit crescendo.
Condomínio em Capão é mais barato que Porto Alegre. Muito mais barato.
Apartamento de dois quartos: R$ 280 a R$ 450 mensais. Três quartos: R$ 350 a R$ 580. Condomínios com piscina e churrasqueira custam mais. Mas as crianças usam. Vale cada real.
O IPTU depende do valor venal. Para um apartamento de R$ 350.000, você paga cerca de R$ 1.400 por ano. Pode parcelar em dez vezes. R$ 140 mensais. É menos que Porto Alegre. Muito menos.
Taxa de lixo: R$ 180 anuais. Irrisório.
A conta de luz em Capão assusta no verão. Você vai usar ar-condicionado. Todo mundo usa. Janeiro e fevereiro são cruéis.
Verão: R$ 380 a R$ 650 mensais (com ar-condicionado). Inverno: R$ 180 a R$ 280 mensais. Média anual para uma família: R$ 320.
Água e esgoto: R$ 110 a R$ 180 mensais. O consumo é padrão. Não há surpresas.
Gás: A maioria usa botijão de 13kg. Dura dois meses. Custa R$ 115. Alguns condomínios novos têm gás encanado. Sai R$ 85 a R$ 140 mensais.
Internet fibra ótica: R$ 100 a R$ 150 mensais. A infraestrutura melhorou muito. Você consegue trabalhar remotamente sem problemas. Upload de 200 megas. Zoom funciona. Teams funciona. A vida funciona.
Não minta para si mesmo. Capão não tem metrô. Não tem Uber em cada esquina. O transporte público existe mas é limitado.
Você precisa de um carro.
Gasolina: R$ 5,89 o litro (média outubro 2024). Para rodar pela cidade, supermercado, escola, praia, você gasta uns R$ 400 mensais.
Manutenção: O sal corrói. A areia entra em tudo. Você vai lavar o carro mais. Vai trocar óleo com mais frequência. Conta R$ 200 a R$ 300 mensais para manutenção preventiva.
Seguro: R$ 180 a R$ 350 mensais, dependendo do carro.
Porto Alegre fica a 140 quilômetros. Você vai lá? Uma vez por mês? Duas? Cada ida custa R$ 120 em combustível e R$ 36,70 de pedágio (ida e volta). Se for duas vezes por mês: mais R$ 313,40.
Total transporte: R$ 900 a R$ 1.400 mensais.
Capão tem supermercados bons. Não são Porto Alegre. Mas servem.
Principais redes: Imec, Zona Sul, Fort Atacadista, Mercado Maramar.
Uma família de quatro pessoas (casal + dois filhos) gasta entre R$ 1.800 e R$ 2.600 mensais no supermercado. Depende da dieta. Depende das escolhas.
Os preços são 8% a 12% mais altos que Porto Alegre. É a logística. É o mercado menor. É o custo do litoral.
Mas há compensações.
A feira do peixe acontece no Centro. Peixe fresco direto dos pescadores. Tainha no inverno. Corvina o ano todo. Camarão quando a safra permite.
Você come melhor aqui. Come fresco. Come verdadeiro.
Um quilo de corvina limpa: R$ 38. Um quilo de camarão médio: R$ 75. Tainha inteira na temporada: R$ 15 o quilo.
Inclua peixe na dieta duas vezes por semana. É saúde. É economia. É aproveitar onde você mora.
No verão, os preços sobem. Tomate fica 30% mais caro. Alface também. Os supermercados sabem que a cidade dobra de tamanho. Cobram por isso.
Mas você é morador. Conhece os horários. Vai cedo. Evita os turistas. Encontra promoções.
Dica profissional: faça compra grande em dezembro. Estocar não-perecíveis. Passar janeiro tranquilo.
Capão tem boas escolas particulares. Não tantas quanto Porto Alegre. Mas suficientes.
Principais instituições:
Valores mensais (2024):
Material escolar: R$ 600 a R$ 1.200 anuais por criança. Uniforme: R$ 400 a R$ 700 no primeiro ano.
As turmas são menores. Os professores conhecem seu filho pelo nome. Isso tem valor. Difícil de quantificar. Mas tem.
As escolas municipais melhoraram. Algumas são boas. Outras, nem tanto.
Destaque para:
O Ensino Médio estadual tem limitações. Infraestrutura antiga. Falta de professores em algumas disciplinas. Muitas famílias optam por particular nessa fase.
Mas conheço famílias satisfeitas com o ensino público. Funciona se os pais acompanham. Se a base de casa é boa. Se há envolvimento.
Aqui está o diferencial. As atividades que fazem sentido no litoral.
Esportes aquáticos:
Outras atividades:
Média para duas atividades por criança: R$ 500 a R$ 700 mensais.
Mas há o gratuito. A praia ensina. A bicicleta leva. O sol bronzeia. A liberdade educa.
Os principais planos operam em Capão: Unimed, Bradesco Saúde, SulAmérica.
Valores mensais (outubro 2024):
A cobertura é regional. Capão, Tramandaí, Osório, Torres. Para procedimentos complexos, você vai para Porto Alegre. O plano cobre. Apenas o deslocamento é por sua conta.
Capão tem:
Emergências são bem atendidas. Pediatria é forte. Obstetrícia funciona (sim, você pode ter filhos aqui).
Especialidades limitadas:
Para essas, Porto Alegre é necessário. Planeje o deslocamento. Planeje o tempo.
Academias custam R$ 89 a R$ 180 mensais. Equipamentos bons. Aulas coletivas. Funcional.
Mas a verdadeira academia é a praia. Correr na areia. Nadar no mar. Pedalar no calçadão. Gratuito. Terapêutico. Transformador.
Capão não é Porto Alegre. Os restaurantes fecham mais cedo. A variedade é menor. Mas a qualidade existe.
Refeição para família de 4 pessoas:
Pizzaria: R$ 80 a R$ 120 (pizza grande). Hamburguer artesanal: R$ 28 a R$ 42 (unidade).
No verão, os preços sobem 20% a 30%. Mais gente. Mais demanda. Lei do mercado.
Dica: Descubra os lugares dos locais. Os restaurantes que não aparecem no Google. Os que servem peixe fresco de verdade. Os que fazem maionese caseira.
A lista é longa:
As crianças crescem livres. Brincam na areia. Aprendem a nadar cedo. Ficam bronzeadas. Ficam felizes.
Isso não tem preço. Mas economiza dinheiro em parquinhos pagos e shopping centers.
Cinema: Não tem em Capão. O mais próximo é em Tramandaí (15 km). Ingresso: R$ 28 a R$ 35.
Eventos culturais acontecem esporadicamente. Shows na praça. Festivais de vez em quando. A vida cultural não é Porto Alegre. Nunca será.
Mas você veio para o mar. Não para o teatro municipal.
A internet melhorou. O home office explodiu. Capão virou possível.
Hoje, 35% dos moradores fixos trabalham remotamente. Mantêm empregos de Porto Alegre. Recebem salários de Porto Alegre. Gastam em Capão.
A infraestrutura suporta. Fibra ótica chegou em 2021. Upload confiável. Videoconferências sem travar.
Coworkings surgiram. Dois bons: Hub Litoral e Cowork Capão. Diária: R$ 45 a R$ 65. Mensal: R$ 380 a R$ 580.
Para quem pode trabalhar de qualquer lugar, Capão faz sentido. Muito sentido.
Limitado. Seja honesto sobre isso.
Principais setores:
Profissionais liberais encontram espaço: arquitetos, advogados, contadores, corretores. A cidade cresce. A demanda existe.
Mas se você depende de emprego CLT local, as opções são restritas. Salários são menores que Porto Alegre. Oportunidades também.
Há espaço. Há demanda.
Negócios que funcionam:
O público cresce. Moradores novos chegam com dinheiro. Turistas enchem a cidade no verão. Nichos não atendidos existem.
Mas lembre-se: Capão tem 50 mil habitantes. No verão vira 300 mil. No inverno volta para 45 mil. Seu negócio precisa sobreviver ao inverno.
A cidade triplica de tamanho. Trânsito paralisa. Supermercados lotam. Filas em tudo.
Você vai odiar janeiro. Todos os moradores fixos odeiam.
Mas depois passa. Fevereiro já é melhor. Março volta ao normal. E você lembra por que mora aqui.
Estratégias de sobrevivência:
Abril a novembro é outro mundo. A cidade esvazia. As praias ficam desertas. O comércio funciona em ritmo humano.
É nessa época que você entende por que vale a pena. Caminhar pela praia vazia. Estacionar na frente de qualquer lugar. Conhecer os vizinhos de verdade.
O inverno em Capão é frio. Venta. Chove. Mas tem uma beleza melancólica. Uma paz que as cidades grandes perderam.
Moradia:
Condomínio + IPTU:
Supermercado (família 4 pessoas):
Transporte:
Escola particular (2 crianças):
Plano de saúde (família):
Lazer:
Total médio mensal:
Economia de R$ 1.590 mensais. R$ 19.080 anuais.
Mas os números não contam tudo. Não contam o ar que você respira. O tempo que ganha. O estresse que perde.
Renda familiar necessária: R$ 7.500
Total: R$ 7.500
Apertado mas possível. Exige disciplina. Exige escolhas. Mas milhares de famílias vivem assim. E vivem bem.
Renda familiar necessária: R$ 12.000
Total: R$ 14.500
O padrão mais comum entre famílias que chegam de Porto Alegre. Confortável. Sustentável. Com folga para imprevistos.
Renda familiar necessária: R$ 20.000
Total: R$ 22.650
Vida boa. Muito boa. Sem preocupações financeiras. Aproveitando tudo que o litoral oferece.
Não é só o aluguel. Há custos que aparecem uma vez. Mas doem.
Aluguel:
Ou se comprando:
Mobília e eletrodomésticos:
Documentação e transferências:
Reserva recomendada para primeiros 3 meses: Mínimo de R$ 25.000 disponíveis. Isso dá segurança. Permite adaptação. Evita pânico.
Ele corrói expectativas. Corrói relacionamentos mal estruturados. Corrói ilusões.
Muitas famílias voltam. Não dura um ano.
Principais motivos de fracasso:
Capão não é para todos. Nem deveria ser.
Famílias que funcionam. Simples assim.
Pessoas que valorizam natureza sobre conveniência. Silêncio sobre agitação. Comunidade sobre anonimato.
Quem trabalha remoto e ganha bem. Quem já tem patrimônio construído. Quem não depende do mercado local.
Aposentados. Empreendedores digitais. Profissionais liberais. Famílias com crianças pequenas que querem outra infância para eles.
E aqueles que simplesmente cansaram. Cansaram do trânsito. Da violência. Do concreto. Do barulho infinito.
Não. A não ser que vá apenas 2-3 vezes por semana. São 140 km. Três horas de viagem diária. Vai te destruir em seis meses.
São adequadas. Não são o Colégio Anchieta. Não são o Farroupilha. Mas dão conta. E o que seus filhos ganham em qualidade de vida compensa possíveis diferenças acadêmicas.
Porto Alegre. Sempre. Planeje-se. Não é todo dia. Mas quando precisa, precisa ir.
Frio. Ventoso. Chuvoso. Mas não é a Patagônia. Tem dias lindos. E a cidade fica vazia. Muita gente ama o inverno aqui.
Consegue. Não com folga. Mas consegue. Conheço famílias que vivem com R$ 6.500. Fazem escolhas. Cozinham em casa. Evitam supérfluos. Funciona.
Infinitamente mais seguro que Porto Alegre. Capão tem problemas? Tem. Furtos no verão. Drogas como toda cidade. Mas é outra escala. As crianças andam de bicicleta na rua. Isso diz tudo.
Talvez. Ou talvez seja a melhor decisão da sua vida. Não sei. Você não sabe. Ninguém sabe.
Mas sei disso: dos que voltaram, metade se arrependeu de ter voltado. E dos que ficaram, poucos se arrependem de ter vindo.
Não é essa a pergunta certa.
A pergunta é: o que você valoriza?
Capão custa 10% a 15% menos que Porto Alegre no total. Mas exige carro. Exige adaptações. Exige resiliência no verão caótico e no inverno vazio.
Em troca oferece: mar todo dia. Ar limpo. Trânsito de cinco minutos. Crianças livres. Pôr do sol de graça. Comunidade de verdade.
Alguns chamam isso de qualidade de vida. Outros chamam de tédio.
Eu trabalho com imóveis aqui há quinze anos. Vendi casas para centenas de famílias. As felizes têm algo em comum: sabiam o que estavam fazendo. Vieram preparadas. Financeiramente e emocionalmente.
Se você tem R$ 12.000 de renda familiar, trabalho remoto ou independência financeira, filhos pequenos e cansaço da cidade grande, Capão faz sentido.
Se ainda está construindo carreira, precisa de networking urbano, adora cultura e agitação noturna, fica em Porto Alegre. Não há vergonha nisso.
O mar estará aqui quando você estiver pronto. Sempre esteve. Sempre estará.
Mas se você está pronto agora, se os números fazem sentido, se o coração pede, então venha. Alugue primeiro. Teste seis meses. Um ano. Passe um verão inteiro. Depois decida.
Porque morar no litoral não é sobre o dinheiro. Nunca foi.
É sobre acordar. Abrir a janela. Ver o mar.
E saber que está em casa.
Saiba mais no nosso site www.lspimoveiscom.br .
Sobre o autor: Especialista em mercado imobiliário de Capão da Canoa há 15 anos, ajudando famílias a realizarem o sonho (ou descobrirem que não era o sonho delas) de morar no litoral gaúcho. Todos os valores são referentes a outubro de 2024 e devem ser atualizados conforme o mercado.